Personalidade | Globo Esporte | 05/02/2018 11h16

Índia deixa aldeia e desponta como promessa do atletismo paralímpico

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Daiane Benitis já nasceu correndo e dando demonstrações de força. Oriunda de uma aldeia indígena da etinia Guarani-Kaiowá em Dourados, no interior do Mato Grosso do Sul, a menina acostumou-se a perseguir animais e caçá-los para as refeições da família. De dois anos para cá, Daiane - que tem uma parte do corpo mais fraca devido a uma paralisia cerebral - passou a usar a ótima resistência física para outros fins. Descoberta em uma competição escolar, ela hoje tornou-se uma promessa do atletismo paralímpico brasileiro, competindo também nas provas de campo.

Daiane, de 14 anos, é uma dentre os 37 adolescentes que participaram do Camping Escolar Paralímpico, promovido pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), em seu centro de treinamento, em São Paulo.

- Comecei a praticar esportes na aldeia. Sempre gostei de correr e fazer força. Há dois anos, participei de uma competição na escola onde eu estudava, e o meu atual técnico me viu e gostou do meu desempenho. Daí ele foi à minha casa conversar com a minha família sobre a possibilidade de eu ser atleta. Minha mãe deixou. Hoje moro na cidade de Dourados e treino para seguir carreira no esporte - disse Daiane.

A adolescente levou uma vida típica de índia até os 12 anos. Como sua aldeia ficava bem afastada das cidades mais próximas, a atleta tinha de percorrer 6km por dia (ida e volta) a pé para estudar. Fluente na língua Kaiowá, ela conheceu o perigo ao deixar o seu povoado indígena pela primeira vez.

- Nossa aldeia é muito tranquila. Não há conflito, todo mundo respeita todo mundo e você não vê violência. Só que o caminho para a escola que eu estudava era perigoso. Como todas as crianças iam estudar a pé e sem os pais, muitos adultos aproveitavam para atacar. Comigo nunca aconteceu nada. Para evitar que acontecesse, muitas vezes eu ia e voltava da aula correndo com os meus dois irmãos - revelou.

Morando em um centro urbano há apenas dois anos, Daiane ainda está em fase de adaptação à vida na cidade. Estudando atualmente em uma escola de Dourados, ela está em São Paulo pela segunda vez na vida, o que tem sido um verdadeiro choque cultural para a jovem atleta.

- São Paulo é uma cidade muito bonita, mas é muito diferente do mundo que eu vivia. Tem muito carro, trânsito e barulho. O que eu mais estranho é que na aldeia a gente fazia tudo a pé e comia o que plantava e caçava. Aqui é tudo diferente, mas eu estou me adaptando - comentou.

Destaque nos 100m livre da última Paralimpíada Escolar, Daiane migrou para as provas de campo (peso, dardo e disco) ao chegar ao camping em São Paulo. Com força de uma guerreira, ela planeja um futuro brilhante no esporte paralímpico.

- Tudo o que eu estou fazendo agora é pensando no meu futuro. Me vejo como atleta e vou fazer o que precisar para ter sucesso - finalizou.

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