Personalidade | Lucas Castro | 30/05/2019 15h43

Eduardo Lane brilha no basquete universitário dos Estados Unidos

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Natural de Aquidauana, atleta passou por Dom Bosco e Funlec em MS, rodou por São Paulo e se transferiu para uma universidade comunitária no país berço do basquete.

O sonho de quase todo atleta de basquetebol é ir para os Estados Unidos ou passar por lá algum tempo. Isto é um fato. Quem sabe, um dia, disputar as principais ligas universitárias americanas e chegar aos confrontos da Associação Nacional de Basquetebol (NBA), que fascina a todos no globo, pelo alto nível técnico e competitivo, além da organização exemplar. Entre os brasileiros, poucos conseguem realizar este “devaneio” de estudar numa universidade estadunidense com bolsa e competir pela instituição.

O aquidauanense Eduardo Lane, de 20 anos, alcançou esta façanha. O atleta joga em território estadunidense desde 2017, onde atuou por duas temporadas (2017/18 e 2018/19) na National Junior College Athletics Association (NJCAA) [traduzido, significa Associação Nacional de Atletas Juniores Universitários] pela equipe da Marshalltown Community College (MCC), cuja alcunha é Tigers. A universidade comunitária pública pertence ao município de Marshalltown, no estado de Iowa, localizado na região Centro-Oeste dos Estados Unidos.

A NJCAA é uma liga esportiva demasiadamente competitiva, na qual somente juniores podem atuar. De acordo com o sistema de ensino estadunidense, em curso de graduação, os dois primeiros anos são básicos e, neste período, os juniores atuam pela NJCAA.

Em maio deste ano, Eduardo Lane assinou contrato com a Universidade Estadual de San Jose (San Jose State University - SJSU), conhecida como Espartanos (Spartans), para a disputa da primeira divisão da Associação Atlética Colegiada Nacional (National Collegiate Athletic Association – NCAA). A liga possui, atualmente, cerca de 1 mil universidades filiadas, que atuam nas divisões 1, 2 e 3.

Para Lane, as duas primeiras temporadas no país da América do Norte serviram de aprendizado e adaptação à língua. “A MCC foi uma boa experiência e um bom começo no país. Agora, sinto que estou preparado para jogar NCAA nesses próximos dois anos universitários que me restam”.

Lane foi observado pelo chefe de recrutamento e avaliação técnica da SJSU, Will Kimble, contratado pela universidade no início da temporada 2017/18. Em matéria publicada no site oficial da instituição de San Jose, Kimble destaca que está entusiasmado com a contratação do jogador brasileiro. “Ele nos dará força e profundidade na frente e eu sinto que causar um grande impacto positivo para nós na próxima temporada”, diz.

Arte de apresentação do atletas na SJSU (Foto: Divulgação/SJSU)

Ainda de acordo com a matéria da SJSU, Lane teve média de 9,9 pontos e 4,4 rebotes por jogo em 30 aparições na temporada passada com Marshalltown. Na temporada anterior, o aquidauanense registrou média de 5,5 pontos em 23 jogos. Na SJSU, Lane será comandado pelo treinador Jean Prioleau.

“Estou ansioso para ingressar na San Jose e animado com as novas mudanças e desafios para jogar na Conferência West Mountain", diz Lane. "É uma nova equipe, novos treinadores, novas experiências e tudo novo. Sou grato pela oportunidade dada pelo treinador Prioleau, para me tornar um espartano".

Mesmo não tendo visto o time em quadra ainda, Lane afirma que o grupo de jogadores e comissão técnica foram receptivos durante visita inicial à instituição. “Sinto que posso acrescentar ao time e fazer com que SJSU tenha uma temporada melhor que a do último ano”, acrescenta, ao Esporte Ágil.

Rotina de treinamentos

O sul-mato-grossense relata que, na Marshalltown, os treinos em equipe aconteciam às 5h45 da manhã. Os trabalhos terminavam às 7 horas e sobrava tempo somente de tomar o café da manhã e ir para a aula. “À tarde, cada um fazia sua rotina de academia ou chutes, o que quisesse. Cada atleta deveria saber o que precisava trabalhar e, se tivesse alguma dúvida, poderíamos tirar com o técnico, que não nos acompanhava na academia”, revela.

Eduardo é ala-pivô (Foto: Arquivo pessoal)

Agora, numa universidade de melhor estrutura, Lane conta que o processo de treinamentos será diferente, principalmente no que se refere ao acompanhamento de um estafe técnico maior. “Na visita, eles me explicaram que eu vou ter nutricionista, preparador físico, quatro assistentes técnicos, técnico principal, diretor de basquetebol, diretor dos esportes da faculdade e fotógrafo. Enfim, é muito mais complexo do que MCC”.

Cobranças e alto rendimento

O atleta de Aquidauana afirmou que, mais do que a diferença técnica do basquete brasileiro em relação ao estadunidense, a maior cobrança está ligada ao desempenho escolar.

“O inglês é uma parte importante para o atleta estrangeiro, não importa o país. Esse é o nosso maior desafio, junto à cultura. Eu penso que não importa onde você esteja, se você fizer o seu melhor, ser humilde e respeitar o próximo, as pessoas vão te olhar de um jeito diferente”, acentua.

Lane revela que, para jogar e se manter no time titular de qualquer equipe universitária, é necessário manter uma boa média de notas nas instituições americanas de ensino superior, denominada Grade Point Average (GPA). “Se não tiver, no mínimo, 2.0 [o que corresponde, mais ou menos, a um conjunto de notas C], o atleta fica inelegível para jogar. Então, isso é algo que as instituições deveriam fazer no Brasil, para que muitos dos talentos que temos no país não parem de estudar ou jogar. Dá para conciliar estudo e esporte”.

O começo de tudo

Lane começou a jogar basquetebol com nove anos de idade, na escolinha do colégio Dom Bosco, sob orientação do professor Otto Silveira. Segundo o atleta, que o influenciou a começar a praticar foi seu pai, Ricardo Lane.

Do quinto ao nono ano do ensino fundamental, Eduardo Lane foi treinado por Ronaldo Monteiro e Dalton Xavier, nomes conhecidos do basquetebol sul-mato-grossense.

Ronaldo Monteiro revelou grandes atletas de basquetebol (Foto: Divulgação/UCDB)

Pelo Dom Bosco, treinou até 2013. Já no ensino médio, Lane foi convidado para vestir as cores da Fundação Lowtons de Educação e Cultura (Funlec).

“Conversei com meu pai sobre a oportunidade de jogar pela Funlec, com 100% de bolsa escolar. Na Funlec, foi onde eu comecei a treinar com um grupo menor, que levava o esporte de modo mais sério e focado”, discorreu o jogador.

Equipe da Funlec em 2015 (Foto: Arquivo pessoal)

Na Funlec, Lane atuou em 2014 e 2015, passagem pela qual o atleta classifica como positiva e produtiva, com inúmeros títulos conquistados. Além disso, durante o período na instituição escolar, Lane foi convocado para a seleção estadual sub-15 (2014) e sub-17 (2015), jogando os campeonatos brasileiros de seleções dos respectivos anos, realizados na cidade de Poços de Caldas-MG.

Na parte pessoal de treinamento e supervisão de fundamentos, Lane salienta que Francisco Tardivo Delben, mais conhecido como Chico, jogador profissional de basquetebol que já vestiu as camisas de Araraquara e São José, ajudou-o ainda nos tempos de Funlec, ao lado do técnico Dirceu Fernando Garcia. O atleta acrescenta que o professor Eurdes Garcia, que treinara seu pai, também foi um dos responsáveis por sua formação física e técnica em Mato Grosso do Sul. 

Lane ao lado do técnico da Funlec, Dirceu Fernando (Foto: Arquivo pessoal)

Lane transferiu-se para a Sociedade Esportiva Palmeiras, de São Paulo-SP, em 2016. Lá, obteve os seguintes resultados: vice-campeão do Campeonato Paulista sub-17, terceiro colocado no Paulista sub-19 e terceiro lugar no Aberto Paulista (adulto).

Em janeiro do ano seguinte, Eduardo fechou acordo com o Campinas Basquete Clube (CBC). Além de desenvolver o basquete, no clube o atleta também estudou inglês. Na ocasião, ficou acordado com o atleta e seu pai, que ele jogaria só o primeiro semestre pela equipe do CBC/Tênis Clube de Campinas (TCC), pelas categorias sub-19 e sub-22. No segundo semestre de 2017, Lane vislumbrava a ida para os Estados Unidos. E foi.

Eduardo Lane, camisa 30, pela equipe de Campinas (Foto: Divulgação/CBC)

Em meio à rápida ascensão, Lane fez questão de salientar a diferença do modo de jogar brasileiro em relação ao basquete americano. “O estilo de jogo foi o que mais me deu trabalho, pois aqui nos EUA o jogo é muito corrido, diferente do Brasil que é mais pensado”. Sobre morar longe da família, o sul-mato-grossense revela sentir saudades, mas o período em que esteve em São Paulo foi importante para adaptação. “Não é fácil ficar longe da família, mas eu já tive experiências antes, então estava preparado para a mudança de país”.

Com humildade, Lane faz questão de agradecer ao seu primo Antonio Lane. "Ele me ajudou muito na transição do Brasil para os Estados Unidos, guiou-me e, na verdade ajuda até hoje".

Principais características

Hoje, Eduardo Lane tem 2,08 metros de altura e atua como ala-pivô (power forward). O atleta revela que sua principal característica em quadra é o gancho com a mão esquerda, fundamento essencial a um ala-pivô.

O arremesso, que não é muito difícil de ser usado longe da cesta, é uma vantagem imprescindível para jogadores muito altos, como Lane. “É difícil de marcar meu gancho de esquerda. O meu chute é bom e tenho uma boa leitura de pick-and-roll [bloqueio seguido de giro para bloquear a marcação e posterior deslocamento para receber passe em direção à cesta]. Porém, para minha posição, é difícil chutar, por isso trabalho mais os ganchos.

Lane com as cores da SE Palmeiras (Foto: Arquivo pessoal)

Ao se analisar vídeos de jogadas de Eduardo Lane, percebe-se que o ala-pivô também é um “reboteiro” nato. Atuando pelo Campinas Basquete Clube, por exemplo, em 10 jogos pela categoria sub-19, ele teve média de 18,2 pontos e de 8,6 rebotes por jogo. Além do mais, em vários jogos anotou double-double, que é o acúmulo de um total de dois dígitos em uma das cinco categorias estatísticas (pontos, rebotes, assistências, roubadas e tacadas bloqueadas) em uma partida.

Sonhos? Sim. No entanto, Lane evidencia não planejar muito seu destino. “Nunca sei onde eu vou estar morando no ano seguinte, mas meus objetivos são me formar em dois anos, e poder jogar profissionalmente na Europa. Sonho em um dia poder vestir o manto da seleção brasileira”.

Confira alguns lances de Eduardo Lane:

Highlights 2017

Highlights 2019

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