Editorial | Da redação | 09/09/2007 14h49

Setembro: Copa do Mundo no Brasil: vale a pena?

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Neste mês de agosto, aconteceu a apresentação das cidades concorrentes à serem uma das sub-sedes da Copa 2014 - caso ela seja realizada no Brasil - aos cinco representantes da Fifa que vieram ao Brasil e realizaram vistoria in loco em cinco das 18 concorrentes. As outras treze, onde inclui-se Campo Grande, apresentaram suas candidaturas na sede da CBF, no Rio de Janeiro-RJ. Cada uma utilizou-se dos mais variados elementos típicos para impressionar a comissão: apresentações folclóricas, danças, culinária, artesanato e outros. A sala de eventos da CBF tornou-se um verdadeiro carnaval durante três dias, podendo-se observar dançarinas nos ritmos dos frevos, baiões, sertanejos e até o bumba-meu-boi. A cidade de Campo Grande apresentou uma verdadeira comitiva política, com governador e prefeito apresentando a Capital de Mato Grosso do Sul - ou do Pantanal, como gostam de entitular-se, assim como faz Cuiabá, capital de Mato Grosso. A semelhança entre as candidaturas de Campo Grande e Cuiabá foi nítida. Certas de que uma das vagas fica com a região do Pantanal, cada uma fez questão de abraçar a reserva ecológica como seu melhor cabo eleitoral.

Campo Grande aposta na localização da cidade, no clima, na organização viária, na fronteira do Estado com Bolívia e Paraguai, nos 70% da área do Pantanal, na segurança pública, no sistema de saúde, no potencial turístico, no projeto de reestruturação do Morenão e no apoio da classe política e da população. Como ponto negativo, a ressalva feita pela Fifa, segundo o ex-jogador de futebol Carlos Alberto Torres (capitão da seleção brasileira de 70), do pequeno público nos jogos do Estadual de Mato Grosso do Sul. A Fifa achou a média de público de 3 a 4 mil muito baixa; todos sabemos, porém, que essa média é ainda menor. Já Cuiabá, além de reconstruir praticamente todo o estádio Verdão, consta no caderno de encargos entregue à CBF no mês de julho reformas de hospitais, ampliação de ruas e avenidas, reformas e ampliação da rede hoteleira, reformas nas áreas de saúde e educação.

Esta candidatura do Brasil para a Copa é sinal de que a ordem política do país percebeu a força do esporte, no envolvimento das pessoas com ele, na emoção que ele transmite e como essas características podem ser utilmente usadas nos palanques. O problema é que o país não está pronto para isso. Não tinha condições de realizar o Pan, assim como não tem condições de sediar a Copa do Mundo em 2014 ou as Olimpíadas em 2016. O Brasil é um país de terceiro mundo e não adianta os ufanistas espernearem: países de terceiro mundo não podem se dar ao luxo de sediar eventos deste porte, enquanto temos problemas tão graves e cruéis, como a violência nas grandes cidades, a fome por todo o país, a crise política que só não enxerga quem não quer e tantos outros problemas. Em outros tempos, esses eventos geravam menos gastos. O Brasil teve um boom populacional que gerou problemas estruturais gravíssimos. Os esforços da classe política deveriam estar voltados para a diminuição destes problemas.

O esporte é sim um belo investimento. Prática que diminui os abismos sociais existentes em nosso país, que contribui ricamente para a educação e saúde de nossas crianças. Porém, investir em grandes eventos não é investir no esporte, é desperdiçar um dinheiro que não está sobrando, dos cofres públicos, para pagar um alojamento de primeiro mundo para um atleta gringo, enquanto milhões de brasileiros sofrem nas favelas. Tivessem os 4 bilhões de reais gastos no Pan sido investidos verdadeiramente em esporte, tantos programas nas categorias de base poderiam ter sido implantados, tantos novos talentos formados. Este dinheiro poderia ser investido em moradia, educação, saúde, segurança, saneamento básico. Mas foi investido no badalado Pan: os atletas estrangeiros vieram, desfrutaram da infra-estrutura montada com o dinheiro público, conquistaram as medalhas e foram embora. O que ficou para o Brasil, para o Rio de Janeiro, foi uma dúzia de estádios modernos. A violência, o tráfico e outros problemas cariocas continuam os mesmos. Para nossos políticos o Pan foi um sucesso. Grandes eventos sempre são sucessos e não são esquecidos, pois eles não se cansarão de lembrar-lhe nos palanques em 2008 e 2010.

O caso da Copa 2014 pode ser diferente, pois cada sub-sede seria responsável pelos seus gastos e em um único esporte. Porém, é necessária uma fiscalização para que não hajam exageros, nem gastos desproporcionais. O exemplo negativo do Pan Rio 2007 é este: previsão de 400 milhões, gastos de 4 bilhões. Seria belíssimo termos uma Copa do Mundo no Brasil, ainda mais com Campo Grande como uma das sub-sedes, mas a reflexão é pertinente: valeria mesmo a pen

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