Editorial | Da redação | 11/11/2007 14h27

Novembro: Defesa do futebol feminino de Mato Grosso do Sul

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São aproximadamente 10 anos de existência da Associação Atlética Moreninhas. O futebol feminino passou por um primeiro despertar no País, em meados dos anos 90, oscilando em períodos de menor destaque. Durante todo este tempo, se alguém tivesse a intenção de encontrar garotas jogando "bola" em Campo Grande, bastava ir ao bairro Moreninhas e perguntar pelo já falecido "seo Anísio", treinador da equipe, ou por Zé Carlos, um dos maiores incentivadores da prática do futebol feminino na cidade, que todos seriam encaminhados à Associação das Moreninhas. Neste ano, vieram a medalha de ouro no Pan e o vice-campeonato Mundial para a Seleção Brasileira Feminina de Futebol, e a modalidade voltou às páginas dos jornais. Todos cobraram do Ministério do Esporte e da CBF um torneio nacional, visto que as melhores jogadoras do País atuam em clubes do exterior ou estão no país, mas recebendo baixos salários pela envergadura das conquistas alcançadas. Assim, foi criada a Copa do Brasil, um campeonato onde cada Federação Estadual indicaria uma ou duas equipes, dependendo de sua expressão nacional. O Estado de Mato Grosso do Sul recebeu o direito de indicar uma equipe e, logo, todos imaginaram que esta seria uma das melhores chances para aquelas atletas que tanto batalharam para continuar praticando o futebol feminino na Capital. As atletas do bairro das Moreninhas estavam certamente animadas, porque sabiam que tantos anos de treino fizeram delas a melhor equipe do Estado. E a lógica diria que a melhor equipe seria indicada pela Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul. Fato é que as coisas não transcorreram desta forma.

A Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul teve em suas mãos uma ótima oportunidade de entregar esta vaga ao clube merecedor, a Associação Atlética Moreninhas, mas não o fez. Primeiro anunciou um selecionado de Mato Grosso do Sul e depois, que o clube Mato Grosso Futebol Clube ficaria com a vaga. A justificativa seria de que o nome deste clube projetaria melhor o Estado e teria mais possibilidades de buscar patrocínios junto à iniciativa pública. Convocaram todas as atletas das Moreninhas e comunicaram à elas que jogariam com o nome de MS F.C. Sem escolha, é claro que aceitaram, pois tudo que um atleta mais quer é jogar, é estar dentro das quatro linhas, dentro de seu espaço. Dessa forma, submetidas à terem que jogar com outro nome, outro uniforme, outras cores, elas iniciaram os treinamentos juntamente com outras selecionadas em clubes do Interior. Poderiam estar imaginando que "dos males o menor": apesar de não ostentar a bandeira das Moreninhas, poderiam jogar um campeonato de alto nível e mostrar suas qualidades para todo o País.

Treinamentos iniciados, eis que a Federação anuncia, faltando poucos dias para o início da Copa do Brasil, que havia fechado uma parceria com o time paulista do Saad F.C., que atuariam pelo Estado de Mato Grosso do Sul. O time do Saad tem grandes estrelas do futebol mundial, é favorita ao título, mas não é sul-mato-grossense. Pode até ser útil no destaque que dará ao Estado por representar Mato Grosso do Sul, mas depois do término do campeonato, todas as atletas do Saad farão as malas e irão embora. Tudo tornará a ser como antes, pois a modalidade ainda não tem a projeção devida. Caso o Saad-SP (jogando por MS) vença a Copa do Brasil, certamente os governantes e dirigentes irão todos se unir, para vangloriar-se do sucesso de "um grande título conquistado". A taça pode ser levantada, mas o que ficará para Mato Grosso do Sul são atletas desmotivadas, pois as garotas do Moreninhas receberam a promessa de que iriam jogar a Copa, mas acabaram relegadas à segundo plano, como se nada tivessem feito em prol do futebol feminino do Estado.

Para aqueles que querem conhecer o verdadeiro futebol feminino de Campo Grande, uma amostra está na Copa Interbairros de Futebol Nove, realizada pela Funesp. Estão participando até o início de dezembro, cinco equipes de futebol feminino: Associação Atlética Moreninhas, Águia Dourada, Nova Era, Alicerce e Ussiter/Esquerdinha. A realidade do futebol feminino de Campo Grande - não é diferente no restante do Estado - é esta, com equipes sem patrocínios, participando dos campeonatos amadores. Falta conscientização da iniciativa pública e privada que o esporte é agente transformador da sociedade, atuando de forma positiva na melhoria da educação, caráter, saúde e socialização de nossas crianças e adolescentes. O Esporte Ágil aplaude de pé estas pessoas que são as protagonistas do esporte, os abnegados que trabalham todos os dias nos campinhos esburacados da cidade, buscando ensinar parte do que o esporte já os ensinou um dia. Entre estas pessoas, estão os responsáveis pela Associação Atlética Moreninhas, que persistem em sua luta, buscando formar cidadãos e encaminha-los da melhor maneira possível.

Alguns querem apenas o poder, as palmas e os louros da vitória: contra estes, pouco conseguimos fazer, pois perpetuam-se no poder de uma maneira "inexplicável", certamente não pelos resultados alcançados. Outros querem a educação, a cidadania e uma sociedade mais justa: estes raramente são encontrados em escritórios ou tribunas de honra, pois preferem de forma humilde, pisar o mesmo chão que todos pisamos e tentar construir o futuro dos menos favorecidos juntos, de mãos dadas, acreditando que o esporte não é um meio de alcançar o poder, mas dividi-lo entre todos que realmente entendem qual sua importância na formação e desenvolvimento dos jovens de nosso País.

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