Editorial | Da redação | 06/04/2008 18h01

Abril: Sobre o conformismo

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O jornal impresso Esporte Ágil chega à sua vigésima quarta edição e comemora dois anos de existência publicando tudo que acontece no esporte de Mato Grosso do Sul, defendendo os interesses da comunidade desportiva, atletas, dirigentes e todos que acreditam no esporte como instrumento importantíssimo na construção de uma sociedade melhor. Nestes dois anos de existência, publicamos as conquistas de nossos atletas e os pequenos e grandes eventos realizados em nosso Estado. Consideramos justa toda manifestação esportiva, seja ela de caráter lúdico, educativo ou competitivo, pois acreditamos que sempre que alguém opta pelo esporte, o faz em detrimento de outras coisas que não fariam bem à sua vida. A criança opta pela disciplina, pela educação, pelos bons valores; o adolescente opta pela competição saudável ao invés de brigas, pelas medalhas ao invés da exposição às drogas e à criminalidade. O adulto opta pela socialização e pela manutenção de sua saúde, assim como o idoso, que pode provar que envelhecer não significa perder qualidade de vida.

Mas no meio esportivo, assim como em todas as outras áreas de nossa sociedade, existem pessoas que não optam pelos bons valores, como a honestidade, usam do esporte para buscar seus interesses próprios. Isto pode ser verificado no caso das irregularidades encontradas na prestação de contas da organização do jogo entre Cene e Palmeiras, realizada em março, na cidade de Campo Grande. Após a partida, o time organizador da partida (no caso, o Cene) deveria entregar aos representantes da CBF, um relatório (borderô) onde constariam os custos da organização do evento, pois o lucro seria dividido entre o próprio Cene e o Palmeiras. Este relatório foi entregue, porém com valores que foram comprovadamente superfaturados, como no caso do aluguel do Estádio Morenão e no aluguel da ambulância.. Outros valores também foram questionados, como o valor gasto com os lanches dos policiais que trabalharam na partida.

A empresa que organizou o jogo foi a Du Promoções, onde estaria a primeira irregularidade. A CBF determina que o clube mandante seja o organizador do jogo. O presidente do Cene diz que a empresa teria sido indicada pela Federação de Futebol de MS. Nesse jogo de empurra, o fato é que se estas irregularidades não tivessem vindo à tona, os organizadores da partida, sejam eles quem forem na realidade, estariam com os bolsos cheios do dinheiro dos torcedores que compraram ingressos imaginando estar ajudando seus clubes.

O aluguel do campo foi declarado com o valor de 12 mil reais, sendo que a UFMS afirma que não passou da metade disso. A ambulância foi declarada a 5 mil, mas a empresa prestadora do serviço afirma ter cobrado apenas a metade. No caso do lanche, foi declarado valor gasto de dois mil e seiscentos reais, sendo que vários profissionais da imprensa afirmaram que foi servido pão com mortadela para aproximadamente 150 policiais. O valor divulgado seria suficiente para cada um dos efetivos ir à maioria dos restaurantes da cidade, pois seriam mais de 17 reais gastos com cada "pão com mortadela".

Após toda a pressão exercida pelos diretores do Palmeiras, CBF e imprensa, o Cene retificou o borderô, diminuindo as despesas do jogo de R$ 85.872,00 para R$ 36.642,20. O lucro da partida aumentou e R$ 51.523,92 serão repassados para o Palmeiras e R$ 34.349,00 para o Cene.

A retificação do borderô confirmou a irregularidade na primeira prestação de contas e o superfaturamento das despesas do jogo em quase cinqüenta mil reais. Estas despesas seriam deduzidas da arrecadação da partida, logo, poderia ter o destino que fosse. Para onde iria toda esta verba? Quantas vezes isto já aconteceu anteriormente? Quem são os beneficiados com essa verdadeira "farra" com o dinheiro do torcedor? Não queremos ser os "paladinos da justiça", mas a sociedade sul-mato-grossense tem que indignar-se mais com atitudes como esta, que sucessivas vezes podem ter acontecido, e outras de mesma moral duvidosa, levando nosso futebol profissional para uma situação cada vez pior.

Somos todos coniventes com estas atitudes imorais? Porquê não reclamamos nossos direitos? Porquê os diretores dos clubes que fazem estas coisas continuam impunes diante de sua torcida e de toda a opinião pública? E finalizando, com o futebol sul-mato-grossense na situação caótica em que se encontra, futebol de baixo nível, clubes indo sempre mal na Série C e Copa do Brasil, porquê os dirigentes insistem em manter, por tantos anos, as mesmas pessoas no poder, votando sempre pelo continuísmo?

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