Copa do Mundo | GE.net | 05/07/2006 15h15

Cafu: "sabia que se o Brasil perdesse a culpa ia ser minha"

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São Paulo (SP) - De todos os jogadores tidos como responsáveis pela eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo da Alemanha, o capitão Cafu foi um dos poucos que "deu a cara a tapa". Saiu pela porta da frente do aeroporto, deu entrevistas, assumiu sua parte da responsabilidade pela derrota. Mas ele também sabia que em caso de eliminação, seria um dos mais criticados, um dos culpados pela desclassificação.

"Eu já estava percebendo isso, que se a seleção perdesse, a culpa ia ser minha e do Roberto Carlos. Se ganhasse, seria graças ao 'quadrado mágico'. Não adianta fazer uma caça as bruxas", afirmou Cafu ao programa Disparada no Esporte, da rádio Gazeta AM. "Mas o Brasil é e sempre será grande por tudo que já fez. Das quatro Copas que eu joguei, chegamos em três finais e ganhamos duas. Isso é muita coisa."

Mesmo com a derrota para a França aos 36 anos, o lateral direito garante que não vai se aposentar da seleção brasileira. "Vou continuar jogando futebol, continuar jogando na seleção. Não vou me despedir só porque alguns jornalistas, que nunca jogaram bola, estão pedindo. Continuaria na seleção mesmo que tivesse sido campeão, que tivesse batido todos os recordes possíveis."

Sobre a decepção do povo brasileiro, ele culpa a grande exposição do time durante esse período. "Estávamos muito expostos. Em 16 anos que eu tenho de seleção, foi a maior cobertura. Não que isso tenha atrapalhado o nosso desempenho. Mas com isso, o povo foi induzido a viver a seleção 100%, o que colaborou na decepção."

"De todos os brasileiros, pode ser certeza que eu sou o mais triste, o mais chateado. No momento, procurei me conter, não deixar transparecer minha tristeza", disse Cafu, tentando explicar a falta de lágrimas no fim da partida de quartas-de-final, um dos pontos mais questionados após a derrota para a França.

"Criou-se muita expectativa em torno da seleção por parte da imprensa, que nós íamos passar a bola meio das pernas do adversário, dar chapéu, mas isso não aconteceu. Isso causou muitas críticas, muitas dúvidas, o que é normal. O desempenho do Brasil deve ser analisado como um todo, não só por um jogo. O grupo era muito bom, mas infelizmente não venceu."

Aparentemente, o capitão da seleção está chateado com parte da imprensa brasileira, que está criticando muito o jogador depois da eliminação na Copa. "A imprensa não está respeitando os valores humanos e profissionais, principalmente os meus. Os mesmos que antes me elogiavam, que falavam que eu estava em ótima forma, me criticam agora, dizendo que estou velho. Eles (os jornalistas) não tem personalidade."

Cafu negou que houve qualquer problema interno no time. "O grupo estava unido, e não houve nenhum problema quando o Kaká reclamou da falta de movimentação do Ronaldo e do Adriano, até porque ele não falou nenhuma mentira. Mas é essa a visão que fica. Para o povo, quando perde, não há união, quando ganha, o time estava unido."

Ele também defendeu o sistema de treinamento do time, criticado pelo pequeno número de coletivos. "Não podemos culpar a falta de coletivos pela derrota, era o programa proposto e nós seguimos a risca. Se o Brasil tivesse sido campeão, ninguém ia estar falando nisso." Cafu também negou que houvesse mistérios na escalação. "O Parreira não escondia a escalação de nós, sempre sabíamos no dia anterior que ia jogar."

Ele terminou a entrevistar pedindo que o povo não se lembre dele por essa derrota, mas sim pelas vitórias. "Eu vou continuar sendo o mesmo. Não queria que as pessoas continuassem me olhando com essa desconfiança, como se eu fosse um vilão, um marginal. Quero que fique a visão vitoriosa. Vou levar as vitórias, que foram muito mais que as derrotas."

"Por favor, não me olhem como se eu fosse um marginal."

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