Ciclismo | Rosália Silva | 28/06/2004 16h59

Jamelão: um apaixonado por ciclismo

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Jamelão: um apaixonado por ciclismo

Clebson Marcos da Silva, mais conhecido por Jamelão, tem 33 anos e veio de Londrina no Paraná para Campo Grande em 1980. Hoje ele é empresário, comanda em sociedade um restaurante na Capital e ainda trabalha com promoções de eventos. Esportista por natureza ele afirma não competir por falta de tempo para treinar. Mas desde que começou a praticar ciclismo, no fim da década de oitenta, foi melhorando o equipamento de treino. Dono de uma raridade na cidade, uma bicicleta importada que ele foi montando até ficar como a do ídolo Lancer Armstrong, que ele compara a um fã de provas de velocidade ter uma Ferrari como a que o alemão Michael Schumacher pilota na Fórmula 1. "É totalmente de fibra de carbono, as rodas são de teflon e o resto dos componentes é titânio e alumínio. A grande maioria dela que é o quadro e as peças mais aerodinâmicas são todas de fibra de carbono". Vinda dos Estados Unidos, demorou seis meses para chegar depois de feito o pedido, porque a "máquina" foi produzida de acordo com as medidas de Jamelão. As fotos da matéria foram tiradas por Júlio César Ximenez, um amigo de Jamelão que também pratica o ciclismo e já foi um dos companheiros de treinamento do entrevistado da Esporte Ágil.

Esporte Ágil - Como você começou a praticar o ciclismo?
Jamelão - Faço ciclismo desde 89, ciclismo de estrada. Eu comecei com mountain bike como todo ciclista começa, esta bicicleta que todo mundo tem, de pneu grosso e tal. E conforme você vai se acostumando, andando mais, vai vendo que quer fazer melhor, vai melhorando. No ciclismo é o seguinte, ou o cara gosta de terra que é a mountain bike, ou gosta de asfalto. São duas tribos totalmente diferentes. Até tem uma rixa entre o mountain bike e o ciclismo. Eu me apaixonei pela estrada mesmo, andar no asfalto. Speed, esse tipo de bicicleta, os ciclistas entre eles chamam de speed, que é aquela bicicleta de pneu fino com aro 27. Eu me apaixonei por esse estilo e comecei a andar em 93. Fiquei quatro anos na mountain bike e depois disso comecei no ciclismo e não parei mais. Com exceção de que duas ou três vezes no ano eu tenho que parar por conta do meu serviço, da minha carreira, nos outros dez meses eu treino sem parar, quase todo dia.

Esporte Ágil - Você competia?
Jamelão - Fiz umas três competições, mas aqui era muito fraco e não tinha tanta pilha para sair, o custo é muito caro. Se você chega a cair tem que trocar as peças e esse nível eu já estava com uma bicicleta importada, então eu competi pouco. E quando eu passei para o ciclismo eu não consegui, eu só estou treinando mesmo. A molecada que compete treina muito. Eles não trabalham, não estudam, só vivem disso. Tem um certo apoio das famílias e das empresas, poucas mas que ajudam alguma coisa. Porque no ciclismo o pessoal é mais humilde, não tem muito pessoal de classe maior que faz o ciclismo. A princípio é apoio de pai de família, de empresas. Então o que acontece, quando eu passei para o ciclismo eu tentei acompanhar mas não dava. A molecada treina demais, tem tempo hábil para isso. Realmente, a coisa para mim servia como hobby mesmo, nos meus horários de folga. Não tem a coisa de acordar de madrugada para treinar. Fiz, tive épocas que eu treinava de madrugada, saia às 5 horas da manhã para fazer, mas a maioria do tempo foi final de tarde, início de noite, porque era o horário que eu tinha, o tempo vago. Mas nenhum compromisso assim de que eu tenho treinamento hoje! Eu treino é pelo tesão de andar, adoro e amo, sou aficionado por ciclismo e sempre acompanho as provas do exterior. Hoje um ciclista que está competindo no Estadual, ele treina umas quatro horas por dia, alguns casos até seis horas por dia e realmente eu nunca tive esse tempo vago.

Esporte Ágil - Você falou que os ciclistas são na maioria das vezes de baixa renda, e como eles fazem para ter o equipamento, a bicicleta para competir?
Jamelão - Esses caras dão a vida aí, vão batalhando dinheiro, o pai ajudando. E realmente, nesse nível de bike (por exemplo, a que Jamelão tem) aqui em Campo Grande só tem umas duas ou três no máximo. Mas é um pessoal que já está na estrada há muito tempo. Como é o meu caso, que vem de infância e fui adquirindo. Mas a molecada nova ainda não tem acesso a um material como esse. Fora aquele que consegue ter um patrocínio e a empresa banca, mas é muito difícil. Uma bicicleta dessa aqui está por volta de sete mil dólares, mais ou menos, se você colocar o Dólar a R$ 3,15 vai dar 22 a 23 mil reais.

Esporte Ágil - Então você tem que cuidar muito bem dela, até porque as peças também são muito caras, não é?
Jamelão - Também o cuidado com o manuseio tem que ser muito importante. Essa bicicleta tem muito atrito, ela é totalmente dura, como um carro esportivo que não tem suspensão, não tem nada. Então tem que tomar cuidado, com buraco. Fora a manutenção, que tem que dar, se chover no outro dia tem que mandar lavar ela inteira. Não pode deixar ela secar depois de uma chuva. Tem todo um aparato de cosia profissional mesmo.

Esporte Ágil - Qual o percurso que você faz quando está treinando?
Jamelão - Dia de semana vou ao Parque dos Poderes que é o local que todo ciclista daqui vai treinar. Nos finais de semana a gente vai para Rochedo, Sidrolândia, o Anel Rodoviário, porque Campo Grande tem um anel que circunda a cidade com aproximadamente 90 quilômetros, vai a todas as saídas e é muito usado.

Esporte Ágil - E qual o local mais longe que você foi?
Jamelão - Para Rochedo, uma ida e volta sem parar, sem botar o pé na estrada, mas a última vez que fui já faz uns quatro anos, deu 182 quilômetros.

Esporte Ágil - Quantas pessoas treinam com você?
Jamelão - O ciclismo é um esporte solitário, quando dá certo de achar um companheiro que está no seu nível. No meu caso aconteceu isso, tive duas ou três pessoas no meu tempo, que me acompanhavam direto. Na semana mesmo é estritamente solitário. Campo Grande eu acredito que tenha hoje uns 50 ciclistas praticam o ciclismo de estrada. Desses 50, você tem que estar no nível da pessoa. Se for para você puxar e aí ter que esperar, não adianta. É muito raro encontrar uma pessoa no mesmo nível, tem muita diferença de nível. Dentro de uma mesma categoria o cara pode estar pedalando bem mais que o outro. E no ciclismo o que tem muito é vácuo. Se você vai na estrada, cada um tem que revezar. Uma hora puxa 300 metros um ciclistas, ele está na frente pegando o atrito do vento, depois ele inverte e vai para trás. O outro que estava descansado no vácuo dele vai indo para frente. Essa mútua troca tem que acontecer para os dois treinarem bem. Quando você vai sai com um ciclista que não está tão bem treinado quanto você acaba que só você sai puxando. Então se faz muito mais força e cansa mais do que o cara que está atrás. Tem caso de treinar com a mesma pessoa, mas só quando o nível está muito igual.

Esporte Ágil - Esse grupo que você treinava, continua a se encontrar, mantém a amizade?
Jamelão - Continua, mas em função do trabalho e da família as pessoas vão se afastando. O vínculo se mantém, só as vezes que a gente pedala é que são bem mais raras, cada um para o seu lado e quando dá para se reunir é legal.

Esporte Ágil - Qual a sensação de quando você está pedalando?
Jamelão - O ciclismo para mim é uma terapia. Eu trabalho demais e já fico pensando em chegar em casa, trocar de roupa para pegar a bicicleta e sair. O vento batendo, a velocidade, a liberdade, onde você quiser na cidade rapidinho com dez minutos se você está em uma saída já chega a outra saída da cidade. Você vai pegando a malícia da bicicleta, de saber as vantagens, para mim foi apaixonante.

Esporte Ágil - Qual é o seu ídolo?
Jamelão - Miguel Indurain, um espanhol que foi vencedor da Volta da França de 1991 a 1995 e Lance Armstrong, penta campeão na França e que tem uma história de vida fantástica: contraiu câncer em 1995, ficou hospitalizado um ano e voltou do zero a pedalar. Agora ele é penta campeão da Volta da França, de 1999 a 2003, e é um sério candidato a ganhar este ano, que inclusive a prova começa agora, no dia primeiro de julho.

Esporte Ágil - E os destaques regionais?
Jamelão - Aqui na cidade tem uma safra nova que eu nem tenho muito contato, que é da equipe do Gilmar. Tem o Médice e o Josué, que são dois rapazes que pedalam muito, mas a gente perdeu contato. A molecada está no auge. Tem um ciclista de Campo Grande que se chama Rogério, que é de Dourados, morou aqui dez anos, veio para cá criança e ele é ciclista profissional no Japão. A última vez que a gente teve contato, porque eu compro muita peça dele, há um mês ele estava na Itália, fazendo teste. E olha, de Campo Grande e ninguém sabe!

Esporte Ágil - Você tem alguma dica de livro ou filme para que outras pessoas possam saber mais sobre ciclismo?
Jamelão - Tem a biografia do Lancer Armstrong, que foi lançada no ano passado que é legal de ler e vale a pena. É difícil encontrar aqui, mas na internet tem. E filme não existe nada direcionado.

Esporte Ágil - Você tem algum projeto no esporte, algum percurso que deseja fazer?
Jamelão - Esse nosso meio é um pouco diferente talvez desse pessoal que faz estrada, que viaja. Quem faz turismo sobre bicicleta é o ciclo-turista. No ciclismo tem várias tribos, em cima da bicicleta cada um no seu.

Esporte Ágil - Você faz outro tipo de esporte?
Jamelão - Faço academia, mas faz uns três meses que estou afastado.

Esporte Ágil - O que significa o esporte para você?
Jamelão - É um bem que você tem que praticar, esporte é uma coisa que te deixa feliz, uma forma de soltar o stress do dia-a-dia. Para mim é uma coisa que se Deus quiser vai estar comigo para o resto da vida.

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