Bate-Bola | Rosália Silva | 05/11/2004 19h17

Presidente do Codac é o entrevistado do Bate Bola

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Arilson Lima fala sobre o Orientando-se no Parque

O sargento do Exército Arilson Lima da Silva, 32 anos, presidente do Codac (Centro de Orientação e Desporto de Aventura) fala nesta semana ao Bate Bola do Esporte Ágil sobre a modalidade de orientação, que pode ser considerada uma versão light da corrida de aventura. Envolvendo público civil e militar, a orientação tem hoje no Brasil mais de cinco mil praticantes. Arilson explica algumas peculiaridades, como a formação de caráter do atleta, de que se ele tomar a decisão errada na orientação e andar a mais, a culpa será somente dele. E esta qualidade do esporte está ligada a mais quatro vertentes: competitividade, meio ambiente, turismo e pedagógica. Em MS são cerca de 500 atletas, 40 estão na categoria elite, a mais forte. O ideal é que este esporte seja praticado em uma mata, com muitos aclives e declives. Mas, mesmo MS tendo predominância do cerrado, existem bons locais para a prática da orientação. Na Europa e Nova Iorque também os parques recebem competições e a "carta" fica à disposição do público em geral, que participa e tem contato com a natureza. Modelo este que está sendo "importado" para Campo Grande, que ganha no próximo domingo, 7 de novembro, três pistas do Projeto "Orientando-se no Parque", resultado de uma parceria do Comando Militar do Oeste e Governo do Estado. A modalidade também vem ganhando maior organização no Estado, durante a última etapa do Circuito Sul-mato-grossense, que aconteceu em Dourados no dia 30 de outubro, foi criada a Federação de Orientação de MS. "A Federação vai fortalecer a modalidade e teremos o nosso ranking reconhecido pela Confederação Brasileira de Orientação", afirmou Arilson. Hoje, o Estado conta com dois clubes, um em Campo Grande o outro em Amambai. Em Dourados, Bela Vista e Ponta Porã existem clubes, mas ainda não são oficializados. Atualmente, só o Sudeste e o Sul do País participam das competições internacionais, em função de estarem melhor organizados e terem mais competidores praticando das provas nacionais. "Só no Rio Grande do Sul são três federações e mais de 30 clubes de orientação", afirmou Arilson. Para quem quiser conhecer o Codac, agora todas as quartas-feiras pela manhã e sextas-feiras à tarde o clube está funcionando no Clube União Beneficente dos Subtenentes e Sargentos das Forças Armadas.

Esporte Ágil - Conte um pouco da história da orientação, como surgiu a modalidade e como chegou a Campo Grande?
Arilson Lima - No Brasil foi em 1970, com os militares das Forças Armadas que foram para a Europa e conheceram o esporte e trouxeram. Em Campo Grande eu servi quatro anos e nunca tive contato com este esporte, nunca vi o mapeamento de área, mas existia dentro do Exército. Na escola em 1995, em Três Corações (MG), foi que eu vim a conhecer. Lá adquiri habilidade para o esporte e desde 96, quando voltei para Campo Grande, eu venho participando das competições. É um esporte militar, mas em 99, conversando com sargentos e oficiais, resolvemos levar para o público civil. Trabalhamos nesta meta até 2003, de estar fazendo os treinamentos. Até fundamos um clube, o Cimcor (Cidade Morena Clube de Orientação). Com a boa aceitação, começamos a fazer reuniões e o pessoal resolveu registrar em cartório. Fizemos a reunião de fundação do Codac (Centro de Orientação e Desporto de Aventura de Campo Grande) em janeiro e fomos abençoados, porque participamos dos Jogos Internacionais do Pantanal. Também tivemos aprovação da Prefeitura e do Estado, e o Comando Militar do Oeste está nos apoiando. Este é um esporte totalmente militar, interado pelo público civil. O que mais me chama a atenção são as vertentes que ele proporciona, como a memorização. Então, no caso militar, numa situação de guerra, se passar pela área do inimigo tem como quando voltar descrever tudo, contar detalhes. A orientação também tem a característica do raciocínio rápido, tem que fazer o esforço físico e ao mesmo tempo tem que pensar. Numa pista de 2 a 3 quilômetros, para um adulto, no primeiro quilômetro está tranqüilo, mas começa a bater o cansaço, o oxigênio no cérebro começa a diminuir e tem que chegar até o final. E como ele começa a pensar, tendo o cansaço físico? Com isso ele vai desenvolvendo as vertentes. Eu mesmo não gostava de corrida, cumpria meu papel dentro do Exército. Hoje eu já tenho uma paixão por corrida, porque eu corro pensando na próxima competição de orientação, onde vou ter contato com a natureza. E na vertente do meio ambiente, o praticante começa a apreciar a natureza. Em nosso dia a dia temos medo de entrar na mata, no esporte não, quando se percebe está dentro da mata.

Esporte Ágil - Mas a prova é de corrida ou de caminhada?
Arilson Lima - A prova é para pessoas de 10 a 90 anos, se bem que em nosso Circuito Municipal uma menininha de menos de um ano segura a carta e a mãe dela faz o percurso com ela. E tem crianças de 2, 3, 5, 7 anos que estão andando e os pais acompanham, mas deixam que elas desenvolvam e tomem as decisões. A pessoa pode fazer por lazer ou de modo competitivo. Para quem está iniciando, pode fazer andando e conforme vai desenvolvendo e vai subindo de categoria, começa a utilizar a bússola e a correr.

Esporte Ágil - E como está o esporte nacionalmente?
Arilson Lima - Em 99 foi fundada a Confederação Brasileira, que hoje está ligada ao Comitê Olímpico Brasileiro e tem uma previsão de em 2012 ser apresentado nas Olimpíadas. Temos o Circuito Nacional, que durante o ano são três pistas. A Universidade do Rio de Janeiro é uma das mais forte, vai com um a dois ônibus só de acadêmicos. No Sul, em muitas escolas a orientação já faz parte do currículo escolar. Para atender principalmente a criança que é preguiçosa e não quer saber de estudar matemática, física ou geografia, por exemplo. Quando a criança pratica o esporte, começa a ver todas estas matérias quando precisa tomar a decisão de qual caminho seguir.

Esporte Ágil - Como vai ser o "Orientando-se no Parque", aqui em Campo Grande?
Arilson Lima - Este é um sonho que está sendo concretizado, juntamente com o Comando Militar do Oeste e governo do Estado. E estamos um pouco a frente da Europa, lá faz parte do currículo escolar, mas aqui temos outras características: vamos chegar no Parque da Nações Indígenas, terá o prisma com a fotografia do animal. O público, tendo acesso à "carta", vai procurar a arara, o tuiuiú. Isso vai aumentar a visita de turistas e vai ser um cartão postal de Campo Grande. No local, vão ser montadas três pistas fáceis, para quem não conhece o esporte chegar, ler e praticar sozinho ou com a família. A diferença entre as pistas será a distância, uma de um quilômetro, outra de dois quilômetros e a de três quilômetros.

Esporte Ágil - A disputa do Circuito Cidade Morena de Orientação, agora neste domingo junto com a inauguração da pista do "Orientando-se no Parque", encerra as atividades deste ano?
Arilson Lima - Em relação ao Circuito Municipal vai encerrar. No fim de novembro, começo de dezembro, vai ter um curso básico de iniciação na Cidade dos Meninos. O curso vai ser aberto ao público que tiver interesse. No ano passado uma empresa levou os seus quarenta funcionários para praticar o esporte. O empresário afirmou que desta maneira iria conhecer cada funcionário dele, porque com a fadiga física, ter que pensar e tomar decisão, se vai trabalhar em equipe é ali que vai conhecer cada um deles. Se pode confiar ou promover para outra função. Eu acho maravilhoso este esporte, na questão da personalidade: se a pessoa tem caráter deformado, quando pratica a orientação ele começa a cometer falhas, porque é ele e ele. O que acontece, toma a decisão errada e vai pelo caminho maior, quando chega no final ele começa a olhar para dentro de si e ver que a culpa é dele. Geralmente as pessoas não olham para si, olham para os outros. Ou ele começa a perguntar como os outros fizeram a pista e começa a perceber que poderia ter tomado uma decisão melhor. Com isso, começa a verificar os seus furos, vai aprendendo com o outro e desenvolvendo o seu caráter.

Esporte Ágil - E o Codac?
Arilson Lima - O Codac foi formado para fortalecer os seus associados. Se tem um evento em Ponta Porã, para ir até lá de carro com a família iria gastar cerca de R$ 240. Como tínhamos quarenta pessoas para ir, o Clube locou o ônibus e cada um investiu R$ 21. Ou seja, poupou R$ 60 da passagem de ida e volta. E ainda conseguimos o alojamento cedido. Em Bela Vista também fomos agraciados com um jantar, oferecido pelo Clube de Sub-Tenentes e Sargentos. Quando foi aqui em Campo Grande, também o Comando Militar do Oeste cedeu o alojamento e jantar.

Esporte Ágil - E quais são os projetos do Codac para o próximo ano?
Arilson Lima - Vamos continuar com o Circuito Municipal, estamos aguardando também que seja o esporte demonstrativo dos Jogos Abertos de Campo Grande em 2005, já estamos conversando com a Funcesp (Fundação Municipal de Cultura, Esporte e Lazer). E se der tudo certo vamos continuar nos Jogos de Aventura do Pantanal. Em fevereiro vamos realizar um curso de mapeador e juiz controlador aqui em Campo Grande, promovido pela Confederação. Temos um projeto para deficientes físicos a ser desenvolvido no Parque das Nações Indígenas e estamos esperando da Fundesporte uma confirmação de datas. E na segunda fase, vai ser justamente começar a inserir nas escolas este esporte. Eu também aproveito para agradecer os nossos patrocinadores deste ano, a Sebival, Só Cartuchos, Escritório de Contabilidade Albuquerque e Advocacia Castilho. Também ao Comando Militar que tem nos apoiado e a minha diretoria no Codac. Orientação não é um esporte que se faz sozinho, tem que ter mais pessoas envolvidas. Não é só a prova em si, existe um trabalho que acontece um mês, dois ou três dias antes, que não é fácil. E a gente até agradece as esposas, porque é um trabalho de dia e noite, de preparação de carta porque não pode ter nada errado, o mapeamento é feito por profissionais. Além de ser militar, eu sou profissional como mapeador, registrado na Confederação Brasileira. Na diretoria do Codac estamos hoje com 17 membros e se não fosse por eles não estaríamos fazendo nada hoje.

Esporte Ágil - E como é esta ligação entre a modalidade de orientação e a natureza?
Arilson Lima - Geralmente as pessoas olham para uma mata e tem medo dos bichos que podem ter lá. Então, é o contato com a natureza que gera o amor. A partir do momento que ele entra na mata e percebe que não tem cobra ou outro bicho, ele desenvolve a sua auto-estima, coragem e começa a ver as belezas do local e a ter consciência da importância da preservação ambiental.

Esporte Ágil - Tem alguém na sua família que pratica a orientação?
Arilson Lima - Minha esposa e meu filho. Inclusive, meu filho tem dez anos e eu tenho que acompanha-lo e ele não aceita. Agora ele quer competir na categoria de 12 anos, porque de 10 anos para baixo todo mundo recebe medalha, a partir da categoria 12 anos é por classificação. A orientação é um esporte diferente, porque premia 30% da categoria. Em Bela Vista, meu filho ganhou.

Esporte Ágil - Qual o nome dele?
Arilson Lima - Alisson. Foi um orgulho, porque com dez anos ganhar dos mais velhos. E foi uma alegria, porque nestes três anos que eu estou acompanhando ele, percebi que quando ia fazer alguma coisa e via dificuldades, ele desistia. Este ano, na primeira pista, ele não saiu do ponto um e falei para ele que se continuasse assim não iria mais me acompanhar nas viagens. Ele começou a chorar, porque é apaixonado pelo esporte e me prometeu que iria se desenvolver. Hoje, nosso relacionamento melhorou, antes éramos mais afastados. Agora até as artes que ele faz, chega e me conta. Este ano, fui duas vezes com a família para o campeonato nacional, só não fomos às três etapas do torneio porque o carro estava com problemas mecânicos e desistimos. São mais de 140 atletas na elite do Brasileiro e eu sou o 53º, só em duas etapas que participei. Nós temos um associado da UCDB, o Jardel, que foi a uma só e é o sexto entre os mais de 40 da categoria dele. A minha esposa participou, na categoria dela tem mais oito mulheres, e ela está em segundo no ranking brasileiro, em uma competição que ela foi. E nós sonhamos em ter representantes de MS no Brasileiro, no Sul-Americano e, por que não, na Copa Mundial, no fim do ano na Europa.

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