Bate-Bola | Rosália Silva | 02/12/2004 12h04

Morando no CE, o atleta de MS espera um dia poder treinar em casa

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Toninho quer fazer de CG um pólo do vôlei de praia

O sul-mato-grossense Antonio Urbanski é um dos quatro representantes do Estado no Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, que hoje treinam em Fortaleza (CE). Aos 29 anos, Toninho como é mais conhecido sonha em transformar Campo Grande em um pólo de treinamento, já que a exemplo dele e de outros atletas do Centro-Oeste, muitos precisam mudar para o Nordeste do País para ter chances de crescer na modalidade. Segundo o jogador, não seria difícil tornar a cidade na sexta referência do País, atualmente além de Fortaleza existem pólos em João Pessoa (PB), Recife (PE), Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ). Toninho faz dupla com Xuxa, outro atleta de MS, e está em sua terra natal se recuperando de uma lesão. Nos dez dias em que está "hospedado" na casa de sua mãe no Conjunto Mata do Jacinto em Campo Grande, Toninho conseguiu um tempo para vir ao Esporte Ágil fazer um bate-papo. Durante a entrevista ele fez questão de agradecer a uma pessoa que tem muito crédito dentro das conquistas do vôlei no circuito nacional. "O presidente da nossa Federação, o José Eduardo Amâncio da Mota, o Madrugada, sempre tratou com muita seriedade o voleibol e ele está a frente da Federação há muito tempo. Ele realmente foi um dirigente sério, que se preocupou com o esporte, independente de outras intenções, seja política ou outras. Agradeço o trabalho que ele fez", afirmou Toninho.

Esporte Ágil - Como você começou? Já foi no vôlei de praia ou no de quadra?
Toninho - O caminho natural é o atleta iniciar pelo indoor, comecei jogando nas categorias inferiores aqui do Estado, a infanto-juvenil, juvenil e treinando nos clubes daqui. Mais tarde fui me habituando e passando para o vôlei de praia. Na verdade tem gente com as características que são melhores ou para a areia ou o indoor. E eu me adaptei ao vôlei de praia.

Esporte Ágil - E como foi essa mudança para a areia, já que aqui é um Estado que não tem praia. Quando você começou tinha muitos praticantes?
Toninho - O Estado sempre teve tradição no vôlei de praia, foi no início dos anos 90 que teve uma competição aqui, em que vieram campeões mundiais para jogar na Praça Belmar Fidalgo. A competição chamada MS Open trouxe atletas de renome, eu fui assistir e me identifiquei. Depois conheci o Circuito Estadual que já tem 14 anos. E começamos a jogar: eu, o Benjamim, o Alex veio um pouco depois e o Xuxa também praticava. Foi o Circuito Estadual, realizado pela Federação de Vôlei daqui que nos deu o primeiro contato com o vôlei de praia.

Esporte Ágil - E qual foi seu primeiro parceiro? A primeira dupla para a competição?
Toninho - Eu tive alguns companheiros na disputa como amador, no começo nos uníamos e íamos jogar. E o Marcelo que era amigo meu de infância, de jogarmos vôlei da rua do Bairro Mata do Jacinto, foi comigo disputar o Circuito Estadual. Eu me apaixonei pelo vôlei de praia por ali. Depois passei a ter como parceiro o Pezão e começamos a competir o nacional. Mas comecei a levar mais a sério mesmo foi quando formei dupla com o Benjamim, jogamos dois anos juntos e conseguimos resultados nacionais. Foi quando começou a engrenar a minha carreira no vôlei de praia.

Esporte Ágil - E quem é o seu parceiro hoje no Circuito Banco do Brasil?
Toninho - É o Xuxa, que é sul-mato-grosense também. Além do Benjamim, joguei também com o Alex, sempre com parceiros daqui. É bacana ter uma dupla que representa o Estado e sempre dei muita sorte com os meus parceiros.

Esporte Ágil - Fazer parte de uma dupla é uma relação que vai além das quadras...
Toninho - Se divide muita coisa, principalmente quando comecei com o Benjamim tínhamos que fazer tudo junto, correr atrás de alguma grana para viajar, viajar junto, correr atrás de hotel. É um relacionamento intenso mesmo, fica muito tempo com a pessoa. Então tem que ter afinidade, se não tiver afinidade não dura muita coisa. Dentro de quadra isso também repercute, porque se não está bem com o seu parceiro não desenvolve. E os parceiros que tive sempre foram pessoas que batalhavam e não tinha muita frescura. Às vezes pegávamos ônibus para ir para o Rio Grande do Sul para jogar o Estadual de lá. O Benjamim foi um desses, não tinha tempo ruim para ele. Se tivesse que ir ao Norte de Mato Grosso ele topava na hora, o que me ajudou muito, porque nisso conhecemos muitas duplas e ganhávamos a maioria dessas competições. O que dava uma graninha para investir no Circuito Nacional. Mais tarde veio o apoio do governo e fomos jogar apenas os circuitos nacionais, sem precisar jogar os torneios menores para ter grana para viajar. E a partir daí começaram a surgir os resultados.

Esporte Ágil - E hoje é mais fácil conseguir patrocínio?
Toninho - Patrocínio da iniciativa privada não é fácil, os empresários ainda têm uma visão defasada neste ponto, porque o esporte é um excelente meio de publicidade. O empresário vê o patrocínio como um dinheiro mal gasto, uma ajuda sem retorno, mas o esporte é um excelente meio de publicidade e ao contrário da publicidade na tv ou em outro meio, investir no esporte não é tão caro. No nosso Estado temos conseguido o apoio do governo, que vem desde o início do governo Zeca, e temos tido mais tranqüilidade para trabalhar. O esporte tem a premiação, mas tem que ter estrutura, o técnico, alimentação legal e tudo isto custa dinheiro. E se não tiver esta tranqüilidade, como em todo esporte o lado psicológico conta muito na hora da partida.

Esporte Ágil - E quais foram os títulos que você ganhou?
Toninho - Quando começamos no Circuito Estadual fomos cinco vezes campeões: duas vezes com o Benjamim, duas vezes com o Alex e uma com o Fábio Luiz, o Pezão. Com o Alex fui campeão paranaense, com o Benjamim campeão catarinense. Jogávamos esses torneios regionais mais no Sul do País porque tinha uma grana boa de premiação. Mais tarde eu e o Benjamim chegamos a estar em sexto no nacional e jogamos no Circuito Mundial. Isso foi no segundo ano, quando começamos a disputar o Circuito Nacional desde a primeira etapa. No final de 98 tive uma contusão, uma distensão abdominal e fiquei quatro meses parado, foi quando desfizemos a dupla e o Benjamim continuou jogando. Depois, por um ano fui parceiro de um atleta do Ceará, que é irmão do Marcio, atual parceiro do Benjamim, e morei em Vitória (ES) um ano. Formei dupla com o Alex, que na época morava em São Gabriel do Oeste. Recomeçamos a dupla com dificuldade no primeiro ano, no segundo ano chegamos a estar em oitavo no nacional e ficamos entre as 10 melhores duplas do País naquele ano. E aqui em Campo Grande tivemos a final do Challenger, quando chegamos na final, mas ficamos em segundo. Agora mais recente, eu e o Xuxa temos alguns resultados expressivos: ficamos em terceiro na etapa de Aracaju (SE) e acabou que tive uma nova contusão agora, e estou a quatro etapas sem jogar, esse fim de semana tem a etapa em Vitória (ES) e o Xuxa foi com outro parceiro para não ficar parado.

Esporte Ágil - E você está em Campo Grande se recuperando?
Toninho - Exatamente, fiz o tratamento em Fortaleza, mas voltei para cá, para continuar o tratamento. Vou ficar uns 10 dias aqui, porque o ar de Campo Grande me ajuda, já até melhorei bastante, estou bem melhor e estou confiante que vou jogar no Rio de Janeiro, se não me engano no dia 15 de dezembro, que vai ser a última etapa deste ano.

Esporte Ágil - O vôlei de praia foi a única modalidade a ter um representante de MS nas Olimpíadas. O que representou isso para você?
Toninho - É bacana para todos o sul-mato-grossenses, porque dá orgulho de ver uma pessoa da gente, ainda mais o Benjamim que começamos juntos, que é um grande amigo, ver ele na Olimpíada.Torcemos muito, é uma prova de tudo isso que eu falei, da continuidade desse trabalho desde aquele Circuito Estadual que a Federação aqui de MS fez e que tivemos os primeiros contatos com a modalidade. É legal ver uma história de sucesso e ver que o trabalho tem resultado. Isso não acontece da noite para o dia, não é por acaso, tudo é uma seqüência de acontecimentos. Do apoio que é dado a determinada modalidade e assim conseguimos ver que o investimento tem retorno. E é uma prova de que nosso Estado tem talentos, tem qualidades. E se tiver mais investimentos, vamos ter outros 'Benjamins' em outras modalidades também, hoje temos aqui um menino que está na Seleção Brasileira infanto-juvenil de vôlei. Então, para nos que participamos de tudo isso é muito gratificante.

Esporte Ágil - Tem alguém da sua família que pratica algum esporte?
Toninho - Não, por incrível que pareça eu sou o único que foi pelo caminho do esporte. A família é muito torcedora, minha mãe é fanática por esporte. Em época de Olimpíadas minha mãe acompanha tudo. Mas como atleta não tem outro, apenas eu e, com isso, a minha responsabilidade cresceu.

Esporte Ágil - E quais são os projetos para o próximo ano?
Toninho - Temos o projeto de continuar esta dupla, eu e Xuxa. E um projeto que eu tenho que talvez seja para 2006, que seria fazer de Campo Grande um pólo de treinamento, porque hoje treinamos em Fortaleza (CE). Este já é o terceiro ano que já estamos lá, eu, o Alex, o Xuxa e o Benjamim. E eu tenho um projeto de fazer de Campo Grande um pólo de treinamento, tem muito atleta da região Centro-Oeste que vai para o nordeste treinar. E aqui temos o que eles precisam; boas quadras e bons técnicos indoor que podem fazer cursos. E a vontade que tenho é de unir isso, para que possamos treinar aqui. É também um incentivo para outras duplas competirem. Hoje nós temos cinco pólos de treinamento: Fortaleza, João Pessoa (PB), Recife (PE), Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ), em que os atletas vão para se preparar.

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