Bate-Bola | Vitor Yoshihara/Da redação | 06/04/2009 16h31

Bate-bola: Marcos Antônio Silvestre

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Cronista exibe quadro com foto da partida entre Comercial e Fluminense. Cronista exibe quadro com foto da partida entre Comercial e Fluminense. (Foto: Foto: Vitor Yoshihara/Esporte Ágil)

Marcos Silvestre

Voz conhecida dos torcedores mais antigos, Marcos Antônio Silvestre iniciou sua jornada de radialista na Rádio Piratininga, em Presidente Prudente (SP), cidade em que nasceu e que é conhecida como um celeiro de cronistas esportivos. Desde 1982 no Mato Grosso do Sul, contratado na época para ser locutor da Rádio Difusora, Marcos recebeu a equipe do site Esporte Ágil em seu escritório, onde declarou que acredita não ser culpa de Francisco Cezário e dos dirigentes de clubes do momento a atual situação do futebol estadual, e sim das administrações passadas.

Além das rádios Piratininga e Difusora, o radialista de 55 anos de idade teve passagens pela Rádio Comercial, Rádio Cidade, Rádio Educação Rural, Rádio Capital AM, Rádio Guanandy AM e Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Atualmente, ele trabalha como comentarista na TV Morena e é narrador do canal Agromix, que faz transmissões do Estadual.O cronista também participa da produção da Revista Destaque.

Esporte Ágil - Como você se interessou pelo jornalismo?
Marcos Silvestre -
Pelo jornalismo, e si, me interessei depois que eu vim pra cá. Primeiro eu me interessei em ser radialista. Eu tinha essa vocação. Eu não tive estudo e brincava de narrar futebol na beira do campo. Em Presidente Prudente, minha cidade natal, era uma cidade que já tinha revelado vários nomes da crônica esportiva do Brasil, como Flávio Araújo, Joseval Peixoto, Jurandir Gomes, pessoas que fizeram historia no rádio esportivo do Brasil e nas grandes emissoras de SP. Então aquela região nossa tinha uma tradição de ter bons narradores. E eu brincava na beira do campo com uma latinha de massa de tomate. Eu ficava imitando, subia na árvore e ficava narrando a pelada, o futebol amador. Eu não tinha vergonha quando garoto, e aos 18 anos eu tive minha primeira oportunidade numa rádio, sem nunca ter entrado em uma emissora e fiquei no rádio até hoje.

Esporte Ágil - Seu envolvimento com o rádio na área esportiva foi desde o começo ou veio depois?
Marcos Silvestre -
Desde o início, eu comecei no rádio esportivo mesmo. Eu jogava bola, joguei num time de japoneses em Presidente Prudente. Eu era goleiro. Fui goleiro da seleção amadora de Prudente, depois fui técnico, treinador de goleiros. Eu sempre fui envolvido dentro do futebol. O jornalismo do rádio que eu faço hoje fui me apaixonar por ele aqui. Existe aquele ditado que diz que quem sabe fazer o rádio esportivo, sabe fazer tudo no rádio.

Esporte Ágil - Você acha que todo jornalista esportivo é um atleta frustrado?
Marcos Silvestre -
Eu não vejo dessa maneira. Eu me sinto um cara realizado como jogador de futebol, apesar de nunca ter jogado como profissional. Tive uma passada nos juniores do Guarani e depois retornei para Prudente. Mas nunca pensei dessa maneira. Se você prestar atenção nas minhas transmissões, eu não agrido jogador pessoalmente, eu não coloco na minha transmissão uma jogada feia, uma coisa escandalosa, que vergonha, essas coisas. Eu não coloco, pois eu acho que o medo de errar tira a vontade de acertar. Você só vai errar se você tiver lá dentro. Existem sim alguns colegas da profissão que tentaram ser árbitro de futebol e não conseguiram. Então, qualquer erro da arbitragem, para eles, é o fim do mundo. Existem alguns colegas que jogaram futebol, e não ganharam dinheiro como o Zico, o Ronaldo, o Kaká... Então eu não penso dessa maneira. Eu faço jornalismo esportivo com muita alegria.

Esporte Ágil - Você citou agora os profissionais que foram jogadores e árbitros. O que você acha dessas pessoas no meio do jornalismo esportivo?
Marcos Silvestre -
Olha, como convidado especial, eu acho muito benéfico. Agora, você tem que ver também que nós estamos perdendo este espaço. A garotada hoje que está se formando no jornalismo, eles não querem fazer o sacrifício que vocês fazem, de ir no frio, no sol ou na chuva em um estádio. A maioria quer ficar atrás de um computador. Querem conforto e facilidade de buscar matérias. Este pessoal está tomando espaço pelo conhecimento. Se você for analisar os convidados das grandes emissoras de televisão, além de terem sido grandes jogadores, foram pessoas de grande caráter. Não estão levando um mau elemento pra lá. Tivemos o caso do Casagrande que foi uma exceção, apesar de ele ter sido um dos pioneiros. Ele tinha boa dicção, bom conhecimento e entrou. Mas no momento que ele pisou na bola, afastaram de vez, um cartão vermelho e um julgamento pesado. Então dificilmente ele volta a trabalhar em uma emissora como a Globo. Pode até voltar, mas em uma emissora menor, que eu acredito também que não volta, senão já teria voltado. Então, você pode ver que todas essas pessoas que comentam arbitragem foram grandes árbitros. Jogadores são jogadores que vestiram a camisa da seleção brasileira. Com raras exceções. A gente ainda tem no interior do Brasil pessoas que jogaram futebol, que não tem uma cultura, que não tem conhecimento da expressão, mas tem conhecimento técnico, e coloca isso no seu comentário. Eu gostaria que existisse uma lei no Brasil que fizesse pelo menos esse pessoal fizesse um curso para pelo menos equiparar a aqueles que fazem a universidade. É evidente que entre contratar eu ou o Zico, ele vai ter a preferência, e isso vai acontecer com vocês e com todos os jovens. E tem muitos jovens também que escolhem o jornalismo por ser uma matéria fácil no vestibular, com menos disputa por vagas. Mas eu gostaria que essas feras viessem como convidados especiais, como eu tive com 18 anos. O meu comentarista na época tinha 70 anos. Era muita experiência, passava no meio da rua, era respeitado. Seu Manoel de Freitas, não falava uma besteira, não falava uma bobagem, não agredia ninguém e comentava tecnicamente que dava gosto. Então, eu narrava futebol e aprendia com ele como comentarista. Tanto é que a determinação naquela época da Rede Piratininga de Rádio, que tinham 22 emissoras espalhadas pelo estado de São Paulo, a ordem que vinha de cima era que o comentarista entrava três vezes no primeiro tempo e três no segundo. Eu colocava ele mais vezes, pois eu o admirava, ele era meu ídolo como comentarista, pelo conhecimento, pela firmeza, pela coerência. Isso me fez aluno dele e um imitador dele. Você pode ver nas minhas transmissões que eu não uso a parte agressão em momento algum. Eu acho que nós que temos a força de imprensa, temos que ter a força da motivação.

Esporte Ágil - Mudando de assunto, que grandes eventos você chegou a cobrir e quais, sejam eles pequenos ou grandes, ficaram na sua memória?
Marcos Silvestre -
Posso citar que estive presente na Copa do Mundo dos Estados Unidos, Campeonato de Wembley, na Inglaterra, Copa América na Bolívia e Copa América no Paraguai. Recentemente em 2008, ao lado do Ricardo Paredes, estivemos nos Jogos Olímpicos da China. Fiz vários Campeonatos Brasileiros, decisões de Campeonatos Gaúchos, Campeonato Paulista, Campeonato Carioca, Campeonato Mineiro... Fiz muita coisa que marcou minha vida. Mas nada marca mais minha vida do que minha chegada no Morenão, pois cada dia que e chego no Morenão, eu vejo um Morenão diferente, eu me sinto mais jovem, me sinto com mais entusiasmo, me sinto com mais alegria e me sinto com mais coragem, pois cada vez que eu chego lá, ele está com menos torcedores, com algum problema, e você tem que transmitir alegria. As vezes você vê alguém te provocando, te chamando de otário de bobo, de mentiroso, e você tem que estar alegre, pois você está transmitindo o jogo pra quem está bem longe de você. E você não sabe quem está te assistindo. Pode ser uma pessoa bem culta, inteligente, pode ser uma pessoa humilde e essa pessoa, por mais humilde, merece seu respeito e sua consideração. Então, eu acho que todos os eventos tem a mesma emoção pra mim, o mesmo valor.

Esporte Ágil - Como você, que acompanhou os áureos tempos o nosso futebol e agora está vendo dois times da Capital brigando pra não cair, avalia o atual momento do futebol sul-mato-grossense?
Marcos Silvestre -
Com muita tristeza. Eu acompanhei os bons momentos do futebol em Mato Grosso do Sul e vou ser sincero pra vocês: posso até ser prejudicado ou castigado depois desta entrevista, mas a culpa não é de quem está agora no comando, esta culpa vem desde o nosso início, pois nos não fizemos uma plataforma, uma estrutura. Porque na época que você está vendo o Morenão lotado aí [o locutor aponta para uma grande foto em seu escritório], neste jogo Fluminense e Comercial, nesta época nós só tínhamos como esporte no Brasil o futebol. O vôlei não tinha a divulgação que tem hoje, o basquete, futsal. Basquete era esporte de rico, judô e karatê era de japonês. Então, o futebol da massa era do povo brasileiro, por isso que ele é o esporte popular nosso. Você ia ao cinema pra assistir lances e gols dos campeonatos. Passava antes ali naquele Estúdio 100, que passava antes de começar os filmes, passava os gols, pois a gente não via na televisão. Depois que a Globo lançou o Fantástico, e criou-se a loteria esportiva no Brasil, começou a aparecer os gols da rodada, que era os gols da loteria esportiva. A Gazeta e a Globo foram pioneiras nisso. Você só assistia jogos ao vivo, no tempo que nós tivemos o auge aqui, jogos da seleção brasileira. Então, hoje, eu vejo com muita tristeza o Operário e o Comercial, os dois iguaiszinhos com 4 pontos, na lanterna, dificuldades financeiras, administrativas, sem confiança, sem a credibilidade que merecia pelo nome. Mas a culpa não é desses atuais. Tem um pouco de culpa sim, pois deveria chamar mais gente, deveria se reunir, deveriam trocar ideias, fazer promoções para levar o torcedor de volta, mas eles não fazem. Talvez por não terem essa criatividade. Cria-se um departamento de marketing e uma assessoria de imprensa para barrar a imprensa, proibir a imprensa de falar a verdade, pois se você falar a verdade, você merece castigo. Isso era há 40 anos atrás, quando não tinha divisão do Estado. Se falava que a lei do Mato Grosso era a lei do [calibre] 44. Hoje não tem mais isso. Hoje nós somos cultos, inteligentes, e eu acho que se nós nos unirmos, chamarmos todo mundo, como diretor, torcedor, pais de jogador e outros para uma conversa, tenho certeza que todos vamos conversar e podemos resolver os problemas a médio e longo prazo. No momento, é muito difícil essa situação do Operário e Comercial sob todos os aspectos.

Esporte Ágil - Como você avalia a atuação da Federação de Futebol de MS nesta gestão do Cezário?
Marcos Silvestre -
Eu não culpo o Cezário. Acho até que ele tem feito o que pode, pois quando ele pegou a Federação, havia uma série só e tinha cinco equipes. Hoje, temos 20 equipes na série A e várias na série B. Você acompanhou que a série B teve mais público que a série A. Se você for ver a tabela hoje do Campeonato Estadual, todos os times que estão na frente, subiram da série B e estão fazendo bonito. A Federação não pode montar time, não pode pagar jogador. Está certo que ela recebe uma verba que até hoje eu não sei quanto é, uns falam que é 50, outros falam que é 30. O que a gente sabe, quem conversa com o Cezário, quem convive com ele, sabe que ele põe a mão no bolso toda hora pra ajudar as equipes. Este ano, que deve estar sobrando alguma coisa pra ele, pois o governo está pagando alimentação, hospedagem e arbitragem, além de algumas prefeituras pagando o transporte. Quantas e quantas vezes vieram times do interior jogar aqui na Capital e o Cezário teve que pagar hotel e restaurante? Então, eu acho que culpar a Federação de Futebol, ela tem culpa sim, pois ela deveria ter um departamento de marketing buscando patrocínio, que eu sempre falo que é a coisa mais importante do mundo, trocar o ingresso pela nota no comércio, ir na Associação Comercial, ir na Secretaria de Receita Federal do Estado. Conversar com o governador. Você gasta trinta reais em uma loja e ganha um ingresso no Morenão. Fazer sorteios durante os jogos, sorteio de bicicleta, de moto, de liquidificador, no final do campeonato, de um carro. Se você for no Morenão 20 vezes, você deposita seu cupom 20 vezes lá e você tem o direito de concorrer 20 vezes no final do ano. Então, eu acho que isso é uma maneira de atrair o torcedor, e isso é um papel da Federação também. Mas o principal papel da Federação é organizar o campeonato. Olha em Roraima, eles estão com dificuldades de organizar o campeonato, são quatro equipes. Então, nós não somos a pior, podemos ser a vice-lanterna no ranking. Mas é uma Federação onde o presidente ainda goza de algum prestígio dentro da CBF. Eu acho que nós da imprensa não devemos culpar a Federação e nem culpar os atuais dirigentes. Temos que culpar um todo. Nós fazemos parte deste pacote de culpa, a imprensa tem culpa. Eu sempre falo, imprensa forte, esporte forte. Não adianta a imprensa só aparecer na Copa do Brasil, nós temos vários companheiros de imprensa aí, que só é imprensa na Copa do Brasil. Só é imprensa em amistoso de seleção brasileira. Fora isso, não aparece. Não vai no Morenão, não vai no estádio das Moreninhas. Então, eu não vou culpar a Federação, eu acho que é uma gestão que dá acesso para todos os dirigentes. Eu duvido qual a equipe do futebol de MS que nunca teve ajuda da Federação. Desde Águia Negra, Ivinhema, Cene, Operário, Comercial, Pantanal, Corumbaense... Todas! Da série A e B e algumas amadoras. Não teve uma que não teve ajuda financeira da Federação.

Esporte Ágil - E sobre a Copa de 2014, como você avalia as chances de Campo Grande receber este evento, que pode ajudar nosso futebol crescer novamente?
Marcos Silvestre -
Minha ideia é a seguinte: eu sou o maior puxa-saco, o maior fanático. Torço para que a Copa venha pra cá, como presidente da Associação dos Cronistas Esportivos, como presidente do Conselho Fiscal da Abrace, como locutor esportivo, como comentarista e como amante do futebol. Mas você quer saber a minha verdadeira opinião? O que eu penso da CBF? O que eu penso da FIFA e o que eu penso do Pantanal, já que nós temos 75% e o nosso vizinho tem 25%? A CBF e a FIFA adiaram a data do julgamento pois eles estão bolando uma fórmula, isso é uma ideia minha, eles estão bolando uma forma de contemplar Campo Grande e Cuiabá. Dois jogos aqui e dois jogos lá. Posso estar enganado, mas você está gravando comigo hoje e amanhã ou depois chegar em mim: "Marquinhos, dia primeiro de abril, no dia da mentira, você falou uma verdade ou você contou uma grande mentira", pois hoje é dia primeiro de abril, mas o que eu penso é isso. Fui proibido de falar isso na TV e no rádio, mas eu não fui proibido de falar isso pra imprensa escrita. Então, eu estou falando, é uma opinião minha. Eu acho que a CBF e a FIFA e os dois presidentes das duas federações, o Carlos Orione em Cuiabá e o Francisco Cezário aqui, vão aceitar e vão ficar quietinhos. Os dois governadores vão aceitar, os dois prefeitos vão aceitar porque as cidades vão ganhar alguma coisa com isso.Campo Grande vai ganhar, Morenão vai ganhar uma reforma, que não será a dos sonhos, mas será uma ótima reforma. O mesmo vai acontecer com o Verdão lá. Eu penso isso. Posso estar enganado, queria estar enganado e que ela fosse toda aqui, mas como eu não sou guloso, se dividir dessa maneira eu não fico chateado.

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