Bate-Bola | Da redação | 15/02/2019 08h19

Atleta de Dourados se prepara para correr 110 km na Patagônia

Compartilhe:

Neurocirurgião radicado em Dourados há 10 anos, Irineu Renzi Junior se considera um atleta ‘amador dedicado’.

Médico neurocirurgião radicado em Dourados há quase 10 anos, Irineu Renzi Junior se considera um atleta ‘amador bastante dedicado’. Aos 42 anos ele se prepara para um desafio que poucos profissionais conseguiriam completar: correr os 110 km da Patagônia Run, ultramaratona que acontece entre os dias 12 e 13 de abril em San Martín de Los Andes (ARG).

“Cometi essa insanidade”, brinca o atleta, que já completou os 70 km da mesma prova em 2016 em pouco mais de 10 horas e agora vai tentar completar os 110 km perto de 16 horas.

Irineu se interessou pelas corridas ainda na Faculdade de Medicina na USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto. Participou de algumas provas de pista mas viu nas trilhas sua verdadeira paixão.

“Como já era praticante de trekking em montanhas, além de alpinismo em gelo e neve, acabou que as corridas de trilhas se tornaram uma opção”, lembra.

Em entrevista ao Esporte Ágil, o neurocirurgião fala sobre sua relação com as corridas, as montanhas e, principalmente, sobre o desafio de correr 110 km na altitude sob temperaturas abaixo de zero.

Como começou seu interesse pelas corridas de trilha?
Sempre gostei de correr e, quando estava na faculdade em Ribeirão Preto (SP), fui treinado por um técnico, Daniel Francisco, com quem aprendi muitos princípios do atletismo, como treinos de tiro, rampa, intervalado, longos, etc. Nessa época, treinava para provas mais curtas, como 5.000 metros e fui gostando, aumentando as distâncias para 10, 15 km (corri seis São Silvestres nessa época). Posso me descrever como um ‘amador bastante dedicado’. Acabei me interessando pelas ultramaratonas, e, especificamente as ultramaratonas de trilha, de montanha. Já fiz algumas e agora cometi a insanidade de me inscrever para uma de 110 km. A mais longa que já fiz antes foi uma de 70 km, fui bem classificado, e agora nessa nova distância vamos ver o que vai acontecer.

Disputa provas somente no Brasil?
Acabei fazendo meias maratonas e, em 2008, minha primeira maratona. Paralelo a isso, gostava e fazia trilhas em montanhas no Brasil e no exterior. Virei praticante de alpinismo também, escalando montanhas na Bolívia e Equador.

Por que a preferência pelas trilhas?
Correr é algo que gostava desde criança. Depois que tive esse técnico, o Daniel, passei a correr de uma forma metódica, com treinos específicos, e não simplesmente calçando o tênis pra sair correndo sem um objetivo. Somado a essa paixão pelas trilhas em montanhas assim como o alpinismo, acabou que as ultramaratonas em trilhas se tornaram uma evolução natural. Quando tive contato com isso, consegui juntar duas coisas que gosto muito: corrida de longa distância e um ambiente de montanha, fora das maratonas urbanas. Correr nas trilhas é mais legal, gosto muito desse contato com a natureza.

Como foi sua preparação para a primeira ultramaratona?
Em 2016, fiz minha primeira ultramaratona, em San Martin de Los Andes. Foi minha também minha primeira grande corrida de trilha, 70 km, na Patagônia Argentina. Já morava em Dourados e fiz a programação de treinos durante alguns meses. Além da corrida, fazia fortalecimento em uma academia. Era eu mesmo quem fazia o planejamento, pois não tinha (e não tenho) assessoria específica de corrida. Encaixava meus treinos nos horários de folga, entre os plantões, dentro das folgas que apareciam durante meu trabalho, que não é pouco.

E como foi essa experiência?
Me inscrevi nos 70 km, e completei a prova em 10 horas e meia. Foi uma corrida muito dura, com grande ganho de altimetria, de quase 5.000 metros. Dentro da minha categoria havia 76 corredores, e fui o 12º colocado. Considero que tive uma colocação muito boa. Estava em 9º lugar até o km 63, mas, no fim, dei uma quebrada, diminuí o ritmo e fui ultrapassado por 3 outros atletas.

Saiu satisfeito?
Achei sensacional, muito legal. Foi tudo que eu imaginava que seria. Unir as duas coisas: ir para a montanha e fazer corida. E o desafio também, fazer uma ultramaratona e conseguir completar foi muito legal. Essa questão do desafio é motivadora. Nos últimos anos, fiz outras provas como no Chile, de 45 km, entre outras maratonas de montanha e até no litoral. Em setembro do ano passado, estava com uns amigos da época da faculdade em Ubatuba, para fazer o Desafio das 28 Praias, de 42 km. Lá comentei sobre a prova da Argentina, sobre sua excelente organização e o grupo se animou a se inscrever.

O que você espera desse seu próximo desafio?
Irei então novamente para a Patagônia, em sete amigos. As distâncias que cada um vai correr são variadas. Alguns irão correr 10 km, outros 21 km. Fiquei em dúvida, se ia para os 70 km e tentava melhorar meu desempenho de 2016, ou se ia para um desafio maior. Acabei resolvendo me inscrever para os 110 km. Nessa categoria, a largada será ao anoitecer, viraremos a noite correndo e a chegada será no dia seguinte, no sábado, tendo até a meia noite como prazo máximo para completar. Espero terminar bem antes disso, talvez em umas 16 horas. É muito difícil estimar, ainda mais pelo ganho de altitude, que será de 7.000 metros. Depende do dia, de como eu estiver me sentindo.

Vai completar a prova? É um percurso longo...
Nem sei se vou completar, na verdade, mas acho que vou, estou confiante. Meu treino está legal, me sinto bem. Me sinto forte o suficiente para completar. Vou chegar, não sei se vou chegar mal, chegar bem, com ou sem dor. Não dá para saber. É bastante frio, apesar de ser abril. Estima-se que a temperatura vá cair bem abaixo de zero na madrugada. Essa questão também não é fácil, pois treino no calor de Dourados. Acaba que isso é um fator ainda mais motivador.

Qual o peso do preparo psicológico em uma prova dessas?
Importantíssimo. Na minha opinião o principal fator é a cabeça, o psicológico. Tem que estar focado. Todos estarão cansados, terão vontade parar, de desistir. Você tem que ter foco e aproveitar o momento, sentir-se privilegiado por estar ali, e não desanimado. Assim como nas escaladas, as condições são muito adversas. Muitas vezes dá vontade de desistir, de estar em casa, confortável e alimentado. Mas se você tiver uma cabeça boa, você segue em frente. E por mais que esteja bem treinado, se a cabeça não estiver legal, não se completa a corrida, pois o desafio é absurdo.

VEJA MAIS
Compartilhe:

PARCEIROS