Com base em sua própria trajetória nas artes marciais, o mestre Silvio Manuel Silva dos Santos fundou, em 2014, o projeto social Diga Não às Drogas e Pratique Jiu-jitsu, com o objetivo de tirar crianças e adolescentes da rua e afastá-los do contato com as drogas. A iniciativa, sem fins lucrativos, acontece no bairro Jardim Gramado, em São Gabriel do Oeste (MS), e completa uma década em atividade neste ano.
Silvio conta que a ideia surgiu no dia em que recebeu sua faixa preta. “Falei para o meu mestre Nonato Machado que iria montar um projeto em São Gabriel do Oeste, pois ele sempre trabalhou com projeto social em Manaus. Foi essa a motivação”, lembra. Desde então, mais de cinco mil crianças e adolescentes já passaram pelo tatame do projeto. “Começamos em 2014 com apenas quatro atletas”, afirma.
O projeto oferece aulas de jiu-jitsu com foco na disciplina, perseverança e frequência escolar dos alunos. “O objetivo sempre foi tirar as crianças e os adolescentes da rua, ficar longe das drogas, ter o máximo de frequência escolar e utilizar os princípios do jiu-jitsu – disciplina, foco e perseverança – na vida pessoal”, explica Silvio.
As aulas acontecem de segunda, terça e quinta-feira, com turmas divididas por nível: iniciantes treinam das 18h às 19h, enquanto os mais avançados seguem até as 20h. Aos sábados, o treino é voltado para atletas de competição, das 8h30 às 10h30. A equipe é formada por Silvio e mais três instrutores, que acompanham de perto o desenvolvimento de cada aluno.
A manutenção do projeto é um dos maiores desafios enfrentados. “Apesar da Prefeitura Municipal nos ajudar com o aluguel do imóvel e inscrições dos atletas que não têm condições financeiras para pagar, ainda temos dificuldades com kimonos, pois onde atuamos há muitos pais que não têm condições financeiras”, relata o mestre.
A realidade enfrentada pelos participantes do projeto inclui situações de vulnerabilidade social. Silvio compartilha a história de um aluno que chegou ao tatame envolvido com drogas e fora da escola. “Uma mãe foi até o projeto pedir ajuda, pois seu filho estava envolvido com drogas e não estava mais frequentando a escola. Pedi para ela levá-lo no projeto no outro dia. Hoje ele está no projeto há três anos, estuda e trabalha. Saiu dos vícios e foi uma mudança incrível na vida dele”, conta.
A disciplina ensinada dentro do dojô vai além das técnicas de luta. O projeto preza por valores de respeito, conduta e responsabilidade social. “Não se envolver com qualquer atividade ilegal ou criminosa, prática de bullying, assédio ou discriminação em qualquer forma, e participação de brigas ou atos de violência dentro ou fora do contexto esportivo”, resume Silvio sobre os princípios que procura incutir nos alunos.
A comunidade pode colaborar com o projeto de forma voluntária. A atuação é totalmente voltada ao coletivo, sem fins lucrativos. A longo prazo, Silvio pretende expandir o alcance da iniciativa para outros municípios de Mato Grosso do Sul.
O mestre também deixa uma mensagem aos jovens que vivem a realidade das drogas ou da violência nas periferias: “Que todas as crianças tenham o direito de escolher um bom caminho para serem cidadãos de bem.” O projeto tem como lema um versículo bíblico: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, quando for velho, não se desviará dele” (Provérbios 22:6).